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DESISTIR DA RAZAO

  

Certa vez foi dito e repetido tantas outras vezes que se há conflitos até mesmo no ambiente conjugal, quanto mais em ambientes comerciais onde o sentimento de amor e atração não fazem parte deste jogo.

 Ainda bem que todas as pessoas pensam de maneiras diferentes, senão o mundo poderia ser uma tremenda chatice com a concordância vinda de todos os lados, inclusive para as coisas insanas. E, do mesmo modo, seria enfadonho viver em um lugar onde não há o que se melhorar devido à falta de dificuldades. E dizem que quando todos pensam a mesma coisa é porque ninguém realmente está pensando.

O choque de ideias, conceitos, princípios, crenças ou valores é comum e no ambiente profissional é percebido que o interesse das partes gladiadoras também é igual. Ou seja: todos lutam em prol da entidade mesmo que seja entre si. A dificuldade é identificar até que ponto a insistência pelo o que se acredita é favorável para a solução que as partes procuram.

Quando se acredita veementemente em alguma coisa, pode-se, inconscientemente, fechar os ouvidos para novos conceitos ou aos já existentes como também delimitar o campo de visão para o que está sendo discutido. Por consequências, nascem os riscos ocultos no planejamento e que apenas serão percebidos durante a execução do projeto. Pior: não haverá plano de ação para respondê-los.

O citado leva a compreensão dos problemas provocados por alguém ou um grupo que foi tomado pela ansiedade do resultado e não pela possibilidade dos contratempos de percurso. Mas e quando a consequência danosa não está apenas no processo, mas também no relacionamento?

O jeito de falar não é a única preocupação que se deve ter em qualquer comunicação. Pontos como o momento certo de se fazer, postura, obediência, flexibilidade e paciência são vitais para o sucesso ou a falta dele. Entretanto, muitos projetos jamais seriam realizados se não fossem pela crença, persistência, assunção dos riscos ou conflitos diretos. Mas a probabilidade desses últimos virarem infortúnios é maior do que os primeiros que são regidos pela prudência.

Ficam solitários os que se colocam em confronto toda vez que há um desacordo. Cabeças-duras, ignorantes, ríspidos, teimosos, etc. são apenas rótulos que outros, ainda menos flexíveis, jogam sobre eles. Mas é notório que nenhum dos lados percebeu a real dificuldade na comunicação, que está na falta de empatia.

Buscando sentir o que a outra pessoa possa estar sentindo ou passando neste momento polêmico também não é fator que pode resultar o sucesso para o caso, pois mesmo entendendo o outro lado ainda é possível de continuar com sua decisão que pode até estar míope para a solução.

Há momentos que é preciso escolher e decidir abdicar da razão para manter o ambiente harmonioso, indiferente do resultado. É o chamado “eu não quero ter a razão; eu quero é ser feliz.” Em outras palavras, é o abrir mão do que se acredita ser o certo para se doar à outra parte no que ela não consegue deixar de acreditar. E assim escolhe-se a felicidade da partilha mesmo que esta seja a de arcar com os ônus do erro do outro.

Se não há a possibilidade do acordo mútuo, mas alguém percebe que o rompimento da equipe/parceria/dupla/casal será mais danoso do que qualquer resultado ruim que se possa ter com a execução do plano do outro, ainda é possível optar pela benevolência desistindo da própria razão e mantendo o elo entre as partes. E isso pode ser algo nato ou uma habilidade desenvolvida.

 

JORNAL TRIBUNA DO NORTE. Caderno Empregos. Ano XXII, nº 6.588, pág. B4. JAN 23, 2013.

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