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SEM CANDIDATOS

 

            É um paradoxo: de um lado empresas precisando contratar pessoas para trabalhar e do outro lado agências de empregos vazias diante da taxa de desemprego de 5,2% e no melhor período econômico do ano.

            Seria cômico se não fosse trágico para a economia nacional saber que nesse tempo há pessoas que pedem acordos aos empregadores e fazem descasos de trabalhos temporários visando passar o período festivo no ócio.

            O histórico e os números atuais ainda mostram a enorme procura de empregos ao término desse período o qual contrapõe o mercado que no início do ano é obrigado a enfrentar a inadimplência dos irresponsáveis consumistas de verão, reduzindo ao máximo seus custos e estoques de produtos. A liquidação, dispensa de funcionários medianos e corte de despesas é a ordem da vez.

            Como se não bastasse, o empregador que acabou de sair do 13º salário se depara com a necessidade de se submeter aos juros de mercado para suportar os não pagamentos de seus clientes na tentativa de cumprir com suas obrigações contraídas e novos impostos vencíveis no primeiro trimestre. E ainda tem que ser polido ao aceitar os vários currículos e pedidos de indicações de trabalho entregues nos escritórios antes inexistentes no término do ano quando era realmente preciso.

            É sempre uma torcida econômica para que o carnaval passe logo e que o brasileiro cogite a possibilidade de retomar as atividades. Enquanto isso, enfrenta-se os citados assistindo o enguiço da economia no período pós-natal ao começo da quaresma.

            Certa vez, Abraham Lincoln (1809-1865), 16º presidente dos Estados Unidos da América, disse: “Não poderás ajudar os homens de maneira permanente se fizeres por eles aquilo que eles podem e devem fazer por si próprios”. Cento e cinquenta anos depois, ainda é possível de se deparar com muitos preferindo assumir o perfil de dependentes governamentais mesmo sendo aptos ao labor.

            Em gerações passadas, a família era numerosa não só devido à crença do paradigma de fertilidade ou desinformações ginecológicas, mas também assim o era para se fortalecer produtivamente já que a comida era consequência da produção. Atualmente, o número de dependentes já justifica a bonificação sem a obrigação de produzir.

            Nos últimos tempos, o foco está se convergindo para a expansão dos direitos de certos grupos vistos como historicamente prejudicados pelo favorecimento dos dominantes e o trabalhador é um deles. O crescente levantamento de bandeiras em favor deste ou daquele a fim de diminuir as diferenças sociais entre os seres dá a impressão de que no futuro próximo o oprimido será o que antes era visto como dominante que por sua vez levantará mais uma bandeira em seu próprio favor. A guerrilha de direitos é tamanha que cega os deveres dos beneficiados.

A maneira de viver tirando proveito de tudo o que é possível é uma depredação do sistema que foi estabelecido para favorecer, mas está adotando pessoas. É preciso estabelecer limites mesmo que esses acabem por colocar cada um em seu devido lugar. Isto é: adota-se quem comprovadamente não tem condições e não os que perambulam pelo mercado escolhendo quando, onde, como e quanto querem.

Imagine trabalhar por 16 meses e depois receber o seguro-desemprego de 4 meses, voltando a trabalhar por 16 meses e novamente tendo direito ao benefício durante mais 4 meses, sucessivamente. E por mais que a agência de emprego tente recolocá-lo no mercado de trabalho, fica restrita às regras de compatibilidade da vaga com o trabalho e salário anteriores, diminuindo ainda mais as chances de êxito na recolocação. 

JORNAL TRIBUNA DO NORTE. Caderno Empregos. Ano XXII, nº 6.857, pág. B4. DEZ 11, 2013.

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